09 dezembro 2013

A Neurociência, O Eleitor e Os Candidatos



Uma reportagem da revista Veja desta semana deixou-me de cabelo em pé. “O Cérebro Vai à Urna” ― é o titulo do artigo do jornalista, Kalleo Coura.

Jamais poderia imaginar que houvesse um laboratório de neurociência no Estado vizinho ao meu (em Pernambuco), para avaliar impulsos e desejos inconscientes dos eleitores. Pois foi o que pude comprovar lendo esse emblemático artigo. No ano de 2010, na campanha para governador, Eduardo Campos (PSB), usou os serviços de neuromarketing na disputa contra, nada mais nada menos, que o poderoso e carismático, Jarbas Vasconcelos.

Testes neurocientíficos realizados na Universidade de Michigan evidenciaram que apenas 3,5% dos eleitores americanos decidiam seus votos baseados em questões ideológicas. O redator de VEJA trouxe à baila uma fala do professor de Neurociência, Pedro Cabalez, confirmando o que já se sabe através da “Psicologia de Massas”: “Não somos tão racionais como gostamos de nos imaginar. Boa parte das decisões que pensamos ser racionais é tomada de maneira inconsciente”.

O Eduardo Campos é mesmo um danado em neuromarketing político. Em 2010, de posse do veredicto neurocientífico, viu que a emoção, e não o lado ideológico, era o afeto que nos fazia tomar decisões em eleições. Campos, com 83% dos votos válidos, foi eleito governador de Pernambuco.

Para as próximas eleições há dois laboratórios de neuromarketing atuando em três estados (Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo). Segundo a reportagem, “o laboratório Neurolab vai atuar na campanha presidencial de Campos, usando uma touca de eletroencefalografia para captar ondas cerebrais vindas do profundo da psique dos eleitores, no sentido de identificar tanto a atenção quanto a emoção diante de um discurso”.

Grosso modo, o que diria Freud, vivo fosse, sobre essa tão almejada conquista tecnológica do inconsciente para fins eleitoreiros?

Não é que me lembrei, agora, da descrição de uma atribulada viagem de navio que o pai da psicanálise e seu discípulo Jung, empreenderam da Europa para os EUA. Contam os biógrafos que o velho barbudo, fumador de charutos, decepcionou-se sobremodo com seus colegas americanos.

No livro ― “Freud – O Lado Oculto do Visionário”, de Louis Breger (pag. 252), há uma menção ao espírito dos cientistas americanos ― que desagradou enormemente ao ilustre visitante. É que eles queriam converter a psicanálise em capital. O autor fala em um desprezo do fundador da psicanálise pelos EUA, que se manifestou por essa época, durando até o fim de sua vida.  “Os EUA são gigantescos, é verdade, mas um erro gigantesco; a América não serve mais para nada a não ser para trazer dinheiro” desabafou, Freud. 

De fato, foram lá nos EUA, que surgiram as primeiras grandes empresas do ramo de vendas, a tirar proveito dos estudos da neurociência. Os neuromarqueteiros de posse do conhecimento sobre o comportamento, impulsos e desejos dos consumidores explodiram as vendas de seus produtos, quase sempre exibidos com apelos chamativos nas vitrines dos shoppings. O Dr. Zaltman, professor em Harvard, desde o final dos anos 90, vem empregando os fundamentos da psicanálise, da neurobiologia e da lingüística para investigar a preferência dos consumidores. Conseguiu descobrir, com relativo êxito, um vínculo emocional entre uma marca ou um produto e o consumidor.

Pelo andar da carruagem, a profissão de neuromarqueteiro no Brasil terá de ser regulamentada com a exigência de no mínimo um diploma em neurociência. Que os certificados, de preferência, venham com o timbre da Universidade de Harvard.

A reportagem da maior revista da editora “Abril”, que saiu às bancas recentemente, traz um dado que vai dar muita dor de cabeça aos candidatos de oposição ao governo Dilma. O inglês Duncan Smith, diretor do laboratório Mindlab, fez uma descoberta que agradou em cheio aos governistas. Afirmou ele: “De maneira inconsciente, os eleitores identificam o próprio político que faz os ataques às qualidades negativas que ele atribui ao adversário”.

Pelos conceitos do neurocientista do Mindlab, quem falar mal do seu opositor na campanha presidencial que se aproxima, perderá eleitores.

E agora, Eduardo, Marina e Aécio? Como sair dessa?

Onde encontrar neurocientistas que possam desprogramar cérebros infantilizados por um paizão e um mãezona que lhes afagam o tempo todo com bolsas e outros apetrechos adquiridos com os nossos suados impostos?


Por Levi B. Santos
Guarabira, 09 de dezembro de 2013
Site da Imagem: neuropedagogianasaladeaula.blogspot.com

8 comentários:

Rodrigo Phanardzis Ancora da Luz disse...

Caro Levi,

Já não seria de hoje que os políticos fazem uso da neurociência.

Há uns 20 anos atrás, quando eu morava na mineira cidade de Juiz de Fora, o então deputado peemedebista Tarcísio Delgado convidou várias pessoas da sociedade para uma palestra do Dr. Lair Ribeiro. Embora ele não tenha conseguido se eleger senador na campanha de 1994, voltou a ser prefeito da cidade por umas duas vezes. Atualmente, seu filho, o dep. federal Júlio Delgado, eleito pelo PSB (mesmo partido do Eduardo Campos), prossegue representando o clã no Congresso.

Quem sabe não foi ele quem deu um toque de neurociência ao seu colega pernambucano? (rsrsrs)

Mas do jeito como o PSDB anda desacreditado e acumulando forte rejeição (agora o escândalo dos trans de SP), acho possível que os socialistas cheguem ao segundo turno.

Abraços.

Levi B. Santos disse...

Rodrigão


Está muito difícil o paizão Lula e a mãezona Dilma se apearem do poder. Eles estão explorando o que na “Psicologia das Massas” se denomina de instinto gregário .

As multidões indolentes e carentes nunca deixarão de se curvar a um rei-deus e uma rainha-deusa que lhes dão o que mais adoram: “pão e circo”. (rsrs)

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Caro Levi,

Não podemos nos esquecer que, antes do "pão e circo", os governos petistas têm proporcionado mais emprego e oportunidades de trabalho ao brasileiro. Nossa economia vive ainda uma ótima fase e, apesar de todas as críticas que faço ao crescimento do Brasil, por faltar mais disciplina orçamentária nos gastos públicos e investimentos em tecnologia, bem como inúmeras outras coisas, temos um número grande de pessoas que ascenderam à classe média atualmente. Já os que recebem bolsas representam mais os que deixaram a linha da miséria e agora podem ser considerados pobres.

Sendo assim, penso que a neurociência não fará milagres para Eduardo Campos, Marina Silva ou Aécio Neves, por mais que possa contribuir assim como a variável do fundamentalismo religioso (causa do 2º turno em 2010 nas eleições presidenciais). Na disputa pelo governo federal, vale o principal que é trabalho e comida na mesa, sendo óbvio que faltam as razões para alguém querer votar em qualquer nome da oposição por mais que hoje a sociedade e sua nova classe média estejam num grau de conformismo cada vez menor.

Abraços.

Eduardo Medeiros disse...

Nada mais emocional do que um campanha política. Eu mesmo, infantil ainda em termos de políticas lá pelos meus 26 anos, me deixei empolgar pela propaganda do Collor, que tinha de longe, a melhor produção e apelava em cheio ao emocional.(apesar de ter votado no primeiro turmo em Mario covas)
Mas a estratégia do Collor de demonizar o Lula deu muito certo. A classe média já tinha antipatia pelo sindicalista barbudo visto como "comunista".
Collor, na maior cara de pau profetizou que se eleito fosse, o Lula iria confiscar a poupança...rs

Eu acho que o Lula faria coisa bem pior naqueles tempos de início de um novo tempo democrático pós-ditadura mas o Collor foi a grande fraude daquela eleição que ele ganhou apelando para o emocional.

e ano que vem, caro amigo, o que farão os marqueteiros com a neurociência?

Levi B. Santos disse...

O perigo, Rodrigo e Edu, é que a neurociência passe a mostrar ao eleitor o que vai no inconsciente do candidato quando ele faz promessas vãs de trazer o céu para terra.

Penso que o resultado dessa conscientização poderia dar um resultado indigesto: os votos inválidos superando os votos válidos ( caso em que ninguém se elegeria) - rsrs

Gilberto Ângelo Begiato disse...

Meu amigo levi já há muito tempo nestas formações que tive como fazer uma campanha política já ouvia dizer que o que importa não é o que o governo fez ou vai fazer mas principalmente o corpo a corpo. O professor dizia que as pessoas gostam de serem olhadas nos olhos, se sentirem únicas e especiais.
O Duda Mendonça sabe bem fazer isso. Não dá pra esquecer da musiquinha Lula lá brilha uma nova estrela lá... rsrsrrs
Levi esta é na minha opinião a grande diferença em termos de marketing do Psdb com o Pt. O PSDB por ser um partido de pessoas elitistas e voltados para elitistas não conseguem ter uma fala popular atingir as bases...
Valeu amigo

Levi B. Santos disse...

Bem lembrado, Gilberto


Nas pesquisas qualitativas de Fernando Henrique (candidato a presidente pela segunda vez), o marqueteiro Nizan Guanaes “detectou que os eleitores viam o presidente como um homem distante do povo”. Recomendou a FHC que ele demonstrasse naturalidade ao comer buchada de bode ou subir em lombo de jegue no Nordeste do país. (rsrs)

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Coisas assim, Levi, Brizola fazia com incontestável espontaneidade usando aquele lenço de gaúcho no pescoço. Até no seu jeito de se alimentar o velho caudilho agia naturalmente como alguém comum do povo. FHC nunca teve esse carisma. Foi eleito mesmo por causa do bom momento do Plano Real. É que ninguém queria mudar para a inflação não voltar e o mesmo sucede hoje com o PT de Lula e Dilma tendo em vista a atual prosperidade econômica do país.