08 outubro 2010

Minha Crônica Para o Dia das Crianças



Agora, já ultrapassando a barreira dos sessenta e quatro anos de idade, sinto uma saudade danada do meu tempo de menino, e ao mesmo tempo fico um pouco entristecido ao ver as criancinhas de hoje, em sua maioria, petrificadas à frente das telinhas de televisão, sendo bombardeadas por programas infantis, que nada tem a ver com o meu mundo de outrora. Sinto pena, quando vejo os meninos da modernidade sentados passivamente em suas poltronas, absorvendo conteúdos de um mundo midiático, cujo sustentáculo é baseado em futilidades importadas de uma cultura hegemônica de pretensões puramente hedonistas.

A criançada de hoje não produz como as de antigamente, porque passou a ser, simplesmente, consumidora ávida da programação infantil das redes televisivas dominadoras. Os programas infantis diários roubaram dos meninos aquilo que tínhamos de mais sublime: o poder de através da imaginação CRIAR um mundo genuinamente nosso. As crianças do mundo globalizado, coitadas, com apenas três anos de idade, mal começando a aprender o português, já sabem de cor e salteado os personagens de desenhos infantis, como: “Barney”, Backyardigans, Bob Esponja, Hello Kit, Mickey, etc. Ali, sentadas, horas e horas, assistindo as “doçuras da modernidade”, vão perdendo paulatinamente aquilo que tínhamos de melhor no mundo dos nossos quintais: “a capacidade de criar”, o poder intuitivo de com as mãos enfiadas no barro molhado, dar forma ao que vinha a nossa imaginação. Bons tempos aqueles em que nos sentíamos como deuses, ao criarmos os nossos próprios brinquedos.

Para exercer a sua atividade criadora, as crianças de hoje não têm mais os quintais que tínhamos outrora. Nas grandes cidades elas vivem enjauladas em apartamentos que mais parecem gaiolas; subsistem como os passarinhos presos por muito tempo, e que quando soltos da prisão, mal levantam do chão, pois perderam a capacidade de voar.

O mundo cibernético já lhes oferece tudo às mãos, sem o mínimo de esforço. Os enlatados oferecidos são em número tão variado, que elas perdem a capacidade ou o poder de criar algo por si só. Não há como a sua imaginação trabalhar, pois tudo aparentemente já foi imaginado e criado pela mídia de produtos infantis.

Ao se aproximar o Dia das Crianças, o frenesi de pessoas apressadas e estressadas nos supermercados e nas lojas de brinquedos, nada lembra o meu velho e tranqüilo quintal de barro batido, cercado por estacas e arames farpados. Lembro que a “faxina” — como era popularmente chamada o muro de varas entrelaçadas do meu quintal —, servia de apoio às trepadeiras que forneciam as “bucheiras” para fabricação dos bois e ovelhas da minha imaginária fazenda.

Lembro-me, como se fosse hoje, da musiquinha que era muito tocada nos rádios à válvulas das marcas Pyonner e Phillips, na semana da criança. Essa canção foi originalmente cantada pelas crianças da Casa de Lázaro (Rio de Janeiro), fundada em 11 de outubro de 1938.

Quem for dessa época e queira relembrar aqueles bons tempos, abra os olhos do coração e se deixe levar pelas vozes das crianças da década de 1950, com a participação do Rei da Voz — Francisco Alves.


6 comentários:

Esdras Gregório disse...

Ao ler esta parte: “Os programas infantis diários roubaram dos meninos aquilo que tínhamos de mais sublime: o poder de através da imaginação CRIAR um mundo genuinamente nosso” eu disse alto pra mim mesmo: “nossaaaaaa!meu deus!”, por que me lembrei na hora dos mundos em que eu criava para brincar com meus brinquedos, aonde eu construía o enredo aonde cada dia/episódio ia se desenrolar a trama dos meus bonecos e soldados, personagens de mim mesmo, em um mundo criados para eles/eu.

“As crianças do mundo globalizado, coitadas” são globalizadas pois se seus netinhos de três anos ai de cor o nome dos: “Barney”, Backyardigans, Bob Esponja, Hello Kit, Mickey, meus sobrinhos aqui também sabe, de forma que uma diferença regional e étnica não mais impede de fazer destes pequeninos: seres condicionados pela cultura “helênica” dominante.
Já que você falou do céu quintal/fazenda. No meu quintal/espaço tinha um corredor curto de muros escuros e alto que propiciava o meu universo sideral de onde saiam os soldados (tampinha de garrafa) de uma base espacial (buraco no muro). Como era delicioso, cada cor de tampinha era um tipo específico de soldados com sua devidas especificação, sem contar nos países e oceanos inéditos criados para eu brincar com meus comandos em ação.

Minha infância foi simplesmente perfeita, por isso sou tão inteligente rsrsrs

Você não acha Levi? Que foi por nossa liberdade criadora que somos hoje confraternos que pensam pensamentos um pouco alem do óbvio?

Levi B. Santos disse...

GRESDER

Perfeito o seu pensamento

Quando fazia os meus moleques no quintal de casa usando os quatro elementos (Terra, Ar, Água e Fogo)sentia-me como um deus que do barro fez seus primeiros brinquedos.

Hoje, como crianças grandes estamos reunidos numa CONFRARIA, usando a PALAVRA no lugar do BARRO, para executar nossas CRIAÇÕES e expô-las num moderníssimo quintal denominado INTERNET.

Guiomar Barba disse...

Pois, Levi, como eu gostava de pular corda, saltar amarelinhas, brincar de roda e de me esconder... Como é difícil ver nossos filhos sentados diante do computador esquecendo o sol lá fora, a praia, o teto azul por traz das nuvéns que nos trazem ainda imagens criadas pela nossa mente fértil.

Abraços.

Eduardo Medeiros disse...

Caramba, meu amigo, agora tu foi no fundo do baú mesmo!!!!!! rsssssssss

Fiquei arrepiado quando ouvi a músiquinha que a minha turma cantava quando estava indo em fila indiana para a sala de aula lá, se não me falha a memória, na terceira ou quarta série.

Eu já escrevi um texto contando como eu criava meus próprios super-heróis e suas estórias e ficava rabiscando no chão de taco lá de casa como se estivesse desenhando mas tudo se passando em minha imaginação.

Eu dava uns rabiscos no chão e na minha cabeça vinham a imagem do herói, suas feições, sua capa, seu uniforme e seus inimigos...

Sem falar que muito pequeno eu gostava de brincar sozinho de que era apresentador de jornal de TV. Eu sentava na cadeira, usava o socador de alho da minha mãe como microfone (kkkkkkkk) e começa a falar as notícias que eu inventava na hora. Quando não conseguia mais inventar eu falava em línguas estranhas: "no domingo aconteceu blá blá, bla, humm, hummm, bllaaffff....kkkkkkkkkkk

E claro, eu também tinha meu próprio canal de TV e escrevia a programação que eu inventava.

Ou seja, até que eu gostava muito dos programas antigos de TV(bem melhores que os de hoje) mas depois ia criar em cima do que eu via.

Bom, deixa eu parar por aqui senão as lembranças vão longe...rssss

abração

Marcio Alves disse...

LEVI

Toda criança tem um potencia fantástico de criação e imaginação, que infelizmente, nós, os pais, como nossa cultura globalizada, não sabemos explorar no sentido de ajudar elas a expandir esse mesmo potencial, pois ao invés disto, apenas deixamos elas a mercê da televisão, que lamentavelmente também, esta muito mais preocupada em vender programação, do que propriamente conteúdo educacional, cultural e criativo.

Por isso é que eu sempre respondo, quando alguém me pergunta, se o mundo que vivemos hoje é melhor e superior ao dos antigos: “Em parte sim, em outras partes não, pois todo momento histórico da civilização, houve e sempre haverá pontos positivos como negativos também, dependerá muito mais de cada um de nós saber explorar, absorvendo os pontos positivos”.

Abraços

Levi B. Santos disse...

GUIOMAR, EDUARDO e MÁRCIO


As reminiscências do nosso tempo de crianças são muito parecidas.

Que saudade hein ? Tempos bons que não voltam mais.

Que nesse dia dedicado às crianças, possamos abraçar "em espírito" a criança que temos bem viva dentro de nós. É ela, ainda, que nos impulsiona a criar e recriar as paisagens, os quadros, os desenhos e as escritas do hoje.


Abçs infantis

Levi B. Santos