11 dezembro 2007

É TEMPO DE CONVERSA "ON LINE"



O avanço tecnológico no mundo das comunicações tem acarretado alguns transtornos, ao exigir de nós uma constante reciclagem na difícil e multifacetada área digital. Para que possamos entender a linguagem cibernética que nos cerca em todos os sentidos, temos que nos render e forçosamente aprender a manejar esta complicada arte: a da computação. Mas, esse é o preço que temos de pagar pela dádiva de ter tudo às mãos, sem sair do lugar.

Na solidão de nosso gabinete, tendo à frente uma tela e sob as mãos um teclado, nos contatamos com qualquer pessoa em qualquer local do planeta. Sem o calor humano da conversa “cara a cara”, nos valemos de letras, números, figuras e desenhos animados, para demonstrar as nossas emoções “via satélite”.

Dias atrás, meus dois filhos mais novos, enfim, me convenceram a entrar no “MSN”, aliás, eles mesmos digitaram tudo: nome, senha, e um outro e-mail (hotmail). Fui testar o tal de “msn” (eu não sei nem o que significa esta sigla), lá pelas vinte e duas horas. O meu primeiro “bate-papo” foi com George (meu filho mais velho), que se encontrava em Cabedelo-PB. O resultado da estréia nessa modalidade de interação, foi uma baita de uma ressaca no dia seguinte. Parecia que eu tinha bebido a noite inteira. Eu tinha me empolgado tanto com o troço, que quando fui olhar o relógio, eram três da manhã. Conclusão: MSN é perigoso para maiores de sessenta anos de idade, pois se fica muito tempo sentado, com os olhos recebendo uma carga de luminosidade muito grande. Tudo isso, somado ao esforço extra realizado para se concentrar, pode prejudicar a saúde frágil dos mais idosos.

Ensinaram-me que, para não perder tempo no bate-papo a dois, eu devia ficar navegando por outros sites, enquanto meu interlocutor de outra localidade pensava e digitava a sua mensagem. Eu entendia que devia treinar bastante os meus neurônios para depois tentar fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Disseram-me que para rir eu tinha que digitar: “rsrsrsrsrsrs”; para dar uma gargalhada eu tinha que teclar dessa maneira: “kkkkkkkkkkk”. Para demonstrar alegria eu tinha que clicar numa “carinha” com os cantos da boca para cima; para tristeza: um rosto com as comissuras dos lábios repuxados para baixo. E assim por diante.

No meu primeiro teste tive uma longa e produtiva conversa com George. Discorremos sobre coisas sérias do nosso cotidiano. Falamos de religião, filosofia, política e até ensaiamos alguns pensamentos incompletos e meio poéticos. E não é que gostei de filosofar “on line”!. O que a gente conversa através da digitação, tenho a impressão que fica mais firmemente gravado em nosso cérebro. Parece, que as palavras ditas no “tête-à-tête” são como rajadas de vento que passam por nós e vão embora logo, e desse modo, em pouco tempo, são relegadas ao esquecimento; ao passo que as frases pensadas e depois digitadas na tela, parecem deixar marcas indeléveis na nossa consciência, tal qual um espelho riscado por um diamante.

Percebi que a troca de mensagens “on line” tem uma grande vantagem: é a de você poder voltar no tempo, e, em “of line” rever toda a conversação desde o início. Acho que num futuro muito próximo, haverá a publicação de livros, retirados diretamente do “msn”. Imagine o que é começar uma conversa às vinte horas e encerrá-la às quatro da madrugada, com a certeza de que o “bate-papo” dará um bom livro depois.

Outro grande benefício da conversa “on line”, é a de que, no calor das emoções, não há o perigo de uma luta “corpo-a-corpo”. Quando muito, o descarrego da raiva terá o teclado como saco de pancadas.

Como tudo na vida tem o seu lado negativo, as travadas do computador e as falhas de carregamento na internet são os principais motivos de irritação, pois tiram momentaneamente a inspiração do digitador. Esses fatos não tinham a menor possibilidade de acontecer nos tempos idos de minha “pena” com bico “escarrapichado”, em que eu a imergia em um tinteiro de liquido azul anil, para, de um modo áspero, escrever em um papel poroso e amarelado. A borracha de apagar, era um “mata borrão” ─ espécie de pedaço de madeira de base curva, envolvida com papel absorvente. Nesse tempo eu ainda nem sonhava com a futura e revolucionária máquina de datilografia. Nessa época, minha “internet” eram os Correios e Telégrafos, na praça central de Alagoa Grande (brejo Paraibano). A cada três semanas recebia uma ou duas cartas, e enviava outras aos meus primos e amigos na Capital do Estado. Era indescritível a emoção que sentia no momento de abrir as correspondências. Nelas depositava todas as expectativas alimentadas durante todo mês. A leitura delas me envolvia num magnetismo de venturosa felicidade, que nem de longe, a máquina digital até agora conseguiu me proporcionar. Naquele tempo era impensável a violação de uma correspondência, a qual depois de fechada e selada tornava-se algo sagrado, e, apenas ao destinatário estava reservado o acesso.

Nos dias atuais, a correspondência virtual pode acarretar imensos transtornos aos usuários da "internet", pelo fato de um terceiro, poder imiscuir-se sorrateiro no meio do "papo", quebrando desta forma o sigilo entre os interlocutores. Um exemplo bem recente aconteceu entre dois Juízes do Supremo Tribunal Federal, os quais tiveram as suas futricas "on line" captadas pelas lentes poderosíssimas dos fotógrafos, em meio a sessão de indiciamento dos "mensaleiros petistas". Audiência que foi transmitida ao vivo para todo Brasil pela Televisão.

Contudo, revendo os prós e os contras, não posso deixar de bater palmas para o MSN. Neste mundo caótico e violento em que estamos vivendo ─ quando ao se sair de casa não se sabe se volta ─ a comunicação solitária “on line”, não deixa de ser um alento para nossas almas desejosas de uma boa e proveitosa conversa, longe do perigo que ronda as ruas.



Ensaio por: Levi B. Santos

Guarabira, 12 de Dezembro de 2007

Um comentário:

Anônimo disse...

recebo msg indesejaveis no meu celular e gostaria que fossem canceladas