04 junho 2007

E AS LÁGRIMAS SE TRANSFORMARAM EM RISO








Dormi durante boa parte da noite, acordei, e passei até ao meio dia de hoje enganado. Vivenciando algo irreal, algo que não acontecera.
Em meio ao almoço, antes de viajar para Araruna, eu fazia as contas junto com minha esposa, dizendo: “daqui a mais ou menos três horas João e Lena estarão chegando na Bolívia. A partida (frustrada) deles para missões nesse longínquo país, estava marcada para às duas horas da madrugada de hoje, saindo do aeroporto Castro Pinto, em Bayeux.
De repente, mas de repente mesmo, toca o telefone. Corro para atender: “Que coincidência”─ eu disse para Luza ─, “é a voz de Lena lá da Bolívia”. Sua voz estava tão estereofônica que eu falei: “Luza! Parece uma ligação local”. Achei a voz da minha irmã muito alegre, como quem sorria ao telefone. No mesmo segundo pensei: Lena teve um “piripaque”, e João desistiu da viagem. Lembrei-me nesta ocasião, de Glauber, que desistira de ir para a Argentina, poucas horas antes de o avião decolar.
A missionária, com muito humor e graça, contou-me em resumo o que acontecera no aeroporto. Parecia estar contando uma “pegadinha do Faustão”. Nunca tinha visto Leni tão contente ao telefone, como se tivesse pulado uma grande fogueira. Ela e seu esposo estavam com o seu conjunto de dez malas no apartamento de Davi em Manaíra, após terem sido levados em um fenomenal desfile pela madrugada adentro, de João Pessoa até Bayeux (cidade que J. Camilo tinha sido secretário de Saúde até às vésperas da viagem).

Para surpresa de todos, após orações, apagões (falta de energia) e abraços de despedidas, não é que os nomes de João e Lena, na hora “H”, não foram encontrados no “livro” de passageiros daquele vôo? ─ disse eu para Luza.
Ao ouvir o meu relato, minha esposa, de pronto respondeu: “ainda bem que esse livro, não é o “Livro da Vida” referido lá no Apocalipse de João, o qual vai ser aberto no julgamento final”. Fiquei pensando com os meus botões: só Deus sabe a razão daquela carreata aparentemente sem sentido. Ora, Deus é onisciente, e desde o culto de despedida, já estava sabendo que a viagem não aconteceria. Por que então Ele fez questão de não revelar a ninguém, nem mesmo ao sumo sacerdote do templo, o que ia acontecer?. É mistériooooooo.

É justamente aí que entram as conjecturas do ser humano, que tanto gosta de especular em ocasiões como esta. Não nego, eu imaginei: se Deus é descrito no Velho Testamento como uma pessoa que se ira, se alegra, se entristece, se arrepende, então, é lógico, que Ele lá de cima, deve ter dado as suas gargalhadas. Será, que Ele talvez não tenha gostado de tanto chororô, tantos abraços e beijos lambuzados de lágrimas, e resolveu de uma hora para outra, transformar o pranto em RISO? Realmente, pelo que houve de cômico, não é possível que tenha ficado alguém sem RIR. “O pranto pode durar uma noite, mas alegria vem pela manhã”. Não há versículo da Bíblia que melhor se encaixe na historia dessa madrugada, do que este.

Dou a mão à palmatória a meu irmão Davi, reconhecendo o que ele disse certa vez para mim, em uma de nossas longas e cansativas discussões teológicas:
─ Levi! Agora, com Cristo, ficou mais difícil. No velho Testamento era mais fácil ─, disse isto, com relação a um certo tipo de pecado.
Agora vejo um raio de sentido no que Davi me disse. E eu pude entender, que em relação a certas situações, no Velho Testamento, as coisas de Deus eram realizadas com mais segurança ou precisão. Era “prego batido e ponta virada”. Por exemplo, num caso como esse de João Camilo e Leni: se estivéssemos naquela época, é claro, não se teria passado por tantos atropelos, porque havia “o profeta” para dizer a hora certa de se partir para a guerra.

Houve no meio disso tudo, um fato que despertou a minha atenção: o significado simbólico da numerologia bíblica. Os números perfeitos eram sete e doze. O número “dez” apareceu com a divisão das tribos de Israel, que no inicio eram doze. Pelo que me consta, o missionário João, levava dez malas. Será que isso, pode ter atrapalhado a sua viagem naquela madrugada fria? Dou-lhe agora um conselho: encha mais duas malas e complete o número doze.

Contudo, se Deus hoje fala pela palavra, antes do desfile para o aeroporto, era para se ter aberto, no mínimo, uma caixa de promessas, para se tirar um versículo sobre a viagem, e outro para confirmação, como se fazia antigamente, antes de se tomar qualquer decisão. Mas, mesmo assim, acho que Deus não iria revelar nada. O que Ele queria era: que João e Lena com as suas pesadas malas fossem descansar no “flat de luxo” de Davi, em Manaíra, lá no alto do décimo terceiro andar.

Diz a história antiga, que a guarda pessoal do Rei Davi era a maior e a mais desenvolvida daquela época. Portanto, durmam bem por este resto de madrugada e um pedaço da manhã, pois aí, vocês estão em um lugar seguro. Quando acordarem, fiquem por alguns momentos desfrutando da bela paisagem aí de cima, olhando o maior centro de consumo da Capital (o Manaíra shopping) do tamanho de nada, enquanto Deus providencia um outro avião.

O importante, é que o "embarque" que não houve, proporcionou o milagre de transformar as lágrimas em riso.

Depois dessa, não sei quais são os desígnios de Deus. Só posso dizer: “seja feita a Sua vontade”.

E que finalmente vocês possam voar em Paz.





Crônica por Levi B. Santos. Guarabira, 23 de maio de 2007.

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