06 janeiro 2015

“Não Verás Nenhum País Como Este!”




“Não verás nenhum país como este” — disse em verso, Olavo Bilac —, poeta brasileiro que, com um ufanismo incomum, revestiu de alvissareira fantasia meus sonhos no tempo dos primeiros anos de escola.

Hoje, aos sessenta e nove anos de idade, ando cansado, pessimista e temeroso com os rumos que vem tomando a nau da antiga Terra de Santa Cruz. Remando contra a corrente daquele que foi considerado o “príncipe dos poetas brasileiros”, penso que entre todas as nações em desenvolvimento, não verei, em vida, outro país como este.

Parafraseando o ex-presidente que sob suas barbas ocorreu um dos maiores escândalos do século (o Mensalão), posso dizer que “nunca na História política mundial” se viu tamanha desfaçatez, patrocinada por uma presidente da república.  De forma tranqüila, anunciar que no seu séquito de trinta e nove ministros, muitos poderão ser descartados no próximo mês de fevereiro, caso o Ministério Público prove que eles estão envolvidos na tramóia vergonhosa denominada Petrolão, é de doer os mais empedernidos corações.

Para entender melhor, os indicados para comandar os ministérios não são ministros, estão ministros, quando não bem deram início as suas gestões. Estima-se que nada mais nada menos que 40 parlamentares podem estar envolvidos nesse mega escândalo que, com certeza, será o assunto a ser pisado e repisado durante a maior parte de 2015. Tenho a impressão de que não existe republiqueta neste vasto mundão de Deus que tenha se envolvido em tão grande corrupção. No dizer do Procurador Geral, Rodrigo Janot, nomeado recentemente pela presidente, os denunciados nos desvios bilionários da Petrobrás deram ao mundo uma “aula de crime”.

 A denúncia a ser feita pela Procuradoria-Geral da República daqui a trinta dias pode enxotar os atuais republicanos de seus cargos, com a presidenta tendo que convocar às pressas uma nova leva de ministros supostamente insuspeitos, sabe lá Deus onde.

“A se comprovar que cerca de 40 a 60 deputados, senadores e ministros andaram sujando as mãos no esquema de corrupção da Petrobrás, um terremoto político pode acontecer nos próximos dias” [Vide link]

Não verás, caro(a) leitor(a), nenhum país como este, um país que anuncia para 2015 aperto nas finanças, contingenciamento de orçamentos, cortes de benefícios conquistados pelos trabalhadores, como o seguro desemprego e pensão por morte, ao mesmo tempo que abre a torneira de aumentos de salários para juízes, ministros e parlamentares —, aumentos esses, escandalosos, pois equivalem  quatro vezes a inflação do ano findo.

Não sei, mas me bate uma saudade danada dos tempos em que o país parecia ser outro, tempo no qual a reposição salarial obedecia a um índice único para todas as categorias dos três poderes da república.

Não Verás País Nenhum” — titulo de um romance de Ignácio de Loyola Brandão publicado em 1981 —, tem muito a ver com o tema aqui tratado, ao revelar em sua narrativa momentos em que uma população esquálida, alienada e subserviente, sem poder de reação, sobrevive desesperançada à mercê de um sistema dominado por esquemas perversos e insanos.

Um pequeno trecho da obra de Loyola Brandão reflete, magnificamente, os sentimentos que, por ora, me invade o peito, fazendo-me desacreditar de um sistema republicano tramado e inaugurado nos escaninhos, sem a presença e o calor do povo, esvaindo-se, agora, do mesmo modo como foi proclamado:

“Os noticiários são inócuos. Novelas, inaugurações, planos de governo, promessas de ministros. Como acreditar nesses ministros, a maioria centenários? Quase perpétuos, remanescentes da fabulosa Época da Grande Locupletação”.

É triste dizer aqui que a franqueza feliz que inebriava meus tempos de estudante, evaporou-se. Quanto ao futuro de nosso país, as astúcias e artimanhas que tornaram banal o que é mal e ilícito deixaram os meus olhos opacos. Como quem nada fatigadamente sem rumo em águas revoltas, o meu olhar desencantado, por ora, não enxerga ou não vislumbra no mundo dos homens um horizonte digno.


Por Levi B. Santos

Guarabira, 06 de janeiro de 2015


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