09 janeiro 2011

Sobre Egos Inflados




A Paulista Betty Milan formou-se em psicanálise em Paris, com o renomado professor Jacques Lacan (que fez a releitura das obras de Freud). Entre sua vasta publicação destaca-se: Sexophuro (1981), O Papagaio e o Doutor (1998), O Amante Brasileiro (2003). Atualmente, escreve, mensalmente, um artigo para a revista Veja.

Sinto prazer ao ler seus ensaios, talvez por serem simples, inteligíveis, e não terem em demasia termos técnicos. Eles sempre se referem a fatos do cotidiano do seu consultório sentimental.

Achei conveniente trazer à baila trechos do pequeno ensaio “Nem Tudo se Pode Ver, Ouvir e Dizer”, que ela escreveu para a revista Veja que saiu hoje nas bancas de todo o país (Edição N°2199)

No intuito de mostrar como é extremamente difícil se livrar do “ego”, e aceitar que o “inconsciente” existe, e que nós é que somos resistentes ao racionalizar que somos donos de nós mesmos, a autora relata uma carta emblemática que recebeu de um músico:

“Um músico me escreve que pertence a uma grande orquestra, mas não tem prazer no trabalho por causa dos colegas. Não suporta o despotismo, a vaidade, a prepotência, a arrogância e a mania e grandeza de alguns. O convívio com “egos inflados” é demasiadamente penoso, e ele me pergunta o que fazer”.

Para abordar a queixa masoquista do músico, Betty Milan, se vale da máxima que foi introduzida no Japão por um monge budista do século VIII que diz: “não ver, não ouvir, e não dizer nada de mau. Essa máxima, representada por três macaquinhos (um cego, um surdo e outro, mudo) foi adotada por Gandhi. “Eles ensinam a não enxergar tudo o que vemos, não escutar tudo o que ouvimos, e não dizer tudo o que sabemos”.

Diz ainda a psicanalista: “egos inflados estão em toda parte, e a luta contra eles não leva a nada. Evitar a luta de prestígios é um bem que nós fazemos a nós e aos outros”.

Na verdade, essa idéia não é tão nova assim. Freud, já via que a pessoa adulta possuía, como aliado, um “ego” mais forte do que tinha quando criança, e, a psicanálise, pensava ele, trazia em seu bojo esperanças de superação ou de restrição dos impulsos inconscientes.

O ego, por sua parte, é aquele sempre desconfiado que trata de atacar ou contra-atacar, invadindo o território dos instintos. Seu propósito é colocar os instintos permanentemente fora de ação por meio de medidas defensivas que garantem as suas próprias fronteiras.

Betty Milan encerra seu ensaio, dizendo: “o nosso ego sempre é compelido a focalizar o que nos prejudica [...], sobretudo numa sociedade como a nossa, que tanto valoriza, e não condena a vaidade, a prepotência e a arrogância. Pelo contrário, estimula-as para se perpetuar".

Ao músico ressentido da história, só lhe resta continuar tocando em sua orquestra, pelo menos, até que os outros do mundo da música reconheçam nele uma peça importante. Ou será que para poder se sentir um homem bom, o ressentido precisa acreditar que os outros são maus?


Por Levi B. Santos

Guarabira, 10 de janeiro de 2011

6 comentários:

Eduardo Medeiros disse...

levi, este texto vem completar e ilustrar o seu texto anterior, que aliás, está agora lá no meu botequim.

guiomar barba disse...

Oi Levi, voltei e ainda estou com a cabeça dividida. Foram férias muito agitadas, mas proveitosas em extremo.

Lí seu ensaio e fico pensando: o que será mesmo que esta incomodando o músico?

Abraços.

Mariani Lima disse...

Oi, Levi.
Percebo que os arrogante são mais sensíveis em diagnosticar "egos inflados". Pessoas pouco competitivas não se queixam muito a esse respeito. Costumam até rir dos presunçosos. Esse músico pode estar vendo nos amigos o mal que o aflige, né?
Fique com Deus.

Anônimo disse...

Oi LEVI,

Que maravilha de artigo!

Realmente existem tantos "egos inflados" que começamos a subtender que o mundo é mal, quando na verdade, más são inúmeras pessoas, principalmente as que se acham superiores e não olham para o degrau debaixo um só minuto por medo de tropeçar e sair rolando escada abaixo.

Mas o que fazer?! Não ouvir, não falar nada, não ver....Rss..

Seria possível nós seres com todos os sentidos possíveis, ter que viver em um ambiente como se fôssemos uma estátua, porque estamos sendo incomodados, pressionados e desprezados?!

Só Freud explica..rss

Beijos.

Levi B. Santos disse...

Guiomar, Mariani e Paulinha


Esse músico precisa entender que o mundo é assim mesmo, e não é ele que o vai mudar.

Quer ver como despareceriam todos os queixumes e ressentimentos do músico?

Bastava que todos os que ele acha arrogante, vaidoso e prepotente o convidassem para ser o maestro da orquestra.
Duvido muito que ele rejeitasse... (rsrsss)

Anônimo disse...

Hahaa...

Que boa lembrança Levi...duvido que o ressentimento não acabaria na hora...rsrss...