06 outubro 2007

ÉTICA EM POLÍTICA? - FOI UM SONHO, ACABOU



Discorrer sobre ética nos tempos atuais é um exercício extremamente difícil. É como entrar em um terreno movediço, que apesar do esforço empreendido e por mais que se queira, não se consegue sair do arriscado atoleiro.

Como falar em código moral, quando vivemos em um país, cujos dois maiores centros populacionais se tornaram palco de uma verdadeira “guerra civil”, caso do Rio de Janeiro e São Paulo, em que os marginalizados pela sociedade foram obrigados a se organizar como um Estado dentro de outro Estado. Para se ter idéia da gravidade do momento, nessas duas cidades, a violência mata mais do que na atual guerra entre xiitas e sunitas no Iraque. Como falar de ética num país em que o mínimo de direito a uma vida condigna é desrespeitado vergonhosamente e, quando os direitos básicos do cidadão, como saúde, segurança e educação, são espezinhados.

Como médico aposentado, aos sessenta e um anos de idade e trinta e sete de profissão, posso dizer com conhecimento de causa, que vivemos em um país “do faz de conta”. Que nação é essa, em que doenças como a Hanseníase e a Tuberculose grassam por todos os recantos, como nunca se viu, de uma forma que não existia, trinta anos atrás. A “Dengue” que no meu tempo de estudante de medicina, em 1968, nem sequer a estudávamos nos compêndios de medicina, pois não havia necessidade, uma vez que a mesma tinha sido erradicada há décadas, hoje é uma pandemia sem o mínimo controle. Não há recursos para acabar com um simples mosquito, mas há recursos para obras, todas elas superfaturadas, afora dinheiro ilegítimo distribuído aos montes, proveniente de “caixa dois”, que as nossas honradas autoridades políticas, com raras exceções, acham ser uma coisa perfeitamente normal. Esta prática ilegal se tornou uma realidade num país em que a banalização do mal feriu de morte o senso moral e ético que devia nortear todas as consciências, principalmente a consciência dos que legislam para o povo e pelo povo.

Virou uma piada de mau gosto o lema: “Código de Ética e Decoro Parlamentar”. Ultimamente, nobres senadores fizeram das iniciais C.E.D.P: o Código de Espetáculo Deprimente do Parlamento. Em nossas casas, pela “TV Senado”, assistimos nestes últimos dias a um espetáculo espúrio de desrespeito ao cidadão, que trabalha honestamente e ganha com o suor do seu rosto.

Ontem mesmo assistia a uma fria “sessão” de homenagem póstuma a Ulisses Guimarães, numa hora em que se o bom senso prevalecesse ela não teria sido realizada em um recinto, por hora tão ultrajado. O velho Ulisses não merecia tanta falta de consideração. Ainda bem, que na noite seguinte, o “povo de quem Ulisses era escravo” lotou o Maracanã no jogo entre S. Paulo e Flamengo, para num espetáculo respeitoso, belo e emocionante, resgatar de forma inequívoca a memória do velho Timoneiro.

Na TV Senado, ainda tive o desprazer de ouvir dois discursos, que pasmem, foi uma verdadeira sessão de autoflagelação, pois as palavras que saíam da boca daqueles senhores, batiam como se fossem chicotes em suas próprias costas. Se pudesse voltar, o que diria Rui Barbosa ao ver a que ficou reduzida a casa que deveria ser a guardiã dos anseios do povo?

Metaforicamente falando, nada mais resta da cúpula côncava do senado, projetada por Oscar Niemeyer, que pensou, quando da construção de Brasília, “que aquele símbolo retrataria um local propício à reflexão, serenidade, ponderação, equilíbrio, onde pudessem ser valorizados o peso da experiência e o ônus da maturidade”.

Mas foi tudo um sonho. ACABOU.


Ensaio por: Levi B. Santos

Guarabira, 06 de Outubro de 2007

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